Era dia 27 de Dezembro de 2018, acordamos cedo, tomamos café da manhã na Pousada Brasil e fizemos check out e seguimos atravessando o Centro de Corumbá e acessando a Rodovia Ramon Gomes até a Fronteira em Puerto Quijarro, Bolívia.

Texto de Fernando Torrezan

Ao passar pela Fronteira no Lado Brasileiro, havia um agente da Receita Federal, ao qual eu o indaguei sobre como seria o procedimento e os tramites para realizarmos a saída do Brasil e a entrada na Bolívia com o veiculo, o mesmo foi muito ágil e firme em sua resposta, “Tudo é feito lá na Bolívia, pode ir direto á Aduana Boliviana”.

Ok, sem hesitar nós e os Mineiros Na Rota, seguimos adiante, atravessamos uma ponte e em um percurso de uns 200 metros entre a Aduana no Brasil e a entrada na Bolívia, havia uma guarita, aonde se encontrava um Policial, havia uma pequena fila de carros e o transito estava bem lento, todos os carro com placas estrangeiras paravam ali para conversar e se orientar com aquele policial. Ao parar, realizei a mesma pergunta de como seria o procedimento para entrar no País dele, o mesmo me disse para ir até a Aduana, que estava a uns 50 metros a nossa direita, mas antes de prosseguir, o mesmo, nos cobrou R$ 2,00 para podermos passar, e nos entregou um comprovante qualquer, o mesmo dizia que aquele valor pago era para transitarmos pelas ruas de Puerto Quijarro.

Foto: Reinaldo Junqueira

Quando chegamos, a Aduana ainda estava fechada, eram 07h00min horário da Bolívia, pois o Brasil tem um Fuso Horário de duas horas adiante que a Bolívia. Já não havia mais vagas, no pequeno estacionamento lateral da Aduana, e é muito difícil de arrumar uma vaga ali, vi que tinham alguns carros estacionados na contra mão, e ali caberiam as duas camionetes, sem duvida alguma, e querendo usar do “Jeitinho Brasileiro”, estacionamos também na contra mão quase de frente com a Aduana, ali seria um local seguro e pratico para a gente, ao esperamos em frente à Aduana, notamos que seria necessário tirar cópias de alguns documentos, mas isso seria tranquilo, já que havia algumas lojinhas que vendiam de tudo um pouco, faziam câmbio e tinham até chip para celular do outro lado da rua, e que prestavam esse tipo de serviço, mas para o nosso engano, nem 5 minutos estacionados ali, vieram, dois policiais e educadamente pediram para nos retirarmos.

Sendo assim viramos os carros em meio à loucura do transito e entramos pela rua lateral, que já é estreita e de mão única, e haviam vários carros estacionados, nesse momento já começamos a sentir desconforto, pois conseguimos parar uns 200 metros adiante estacionando o carro no meio do mato invadindo parte de uma construção abandonada. Era um local não muito movimentado e ficamos receosos em deixar os veículos ali, mas como não tínhamos alternativa, tivemos que assumir o risco.

Fomos até uma dessas lojinhas para tirarmos copias dos documentos, ali percebemos que teríamos que preencher o formulário 249 SIVETUR, o qual pode ser preenchido online em sua casa. O rapaz, fez na hora o preenchimento desse formulário, apenas usando minha CNH, Documento do Veículo e RG, feito e impresso o formulário 249, foi a vez de tirar cópias dos documentos, entreguei, RG, CNH e Documento do Veículo, ai o jovem rapaz olhou para mim e perguntou:

Rapaz – A onde está os papeis de ingresso à Bolívia?

Eu – Precisa fazer o ingresso lá na Fronteira?

Rapaz – Sim

Percebi naquele momento que estaríamos lascados e fadados a enfrentar uma longa fila.

– Sem problemas, eu disse para os Mineiros na Rota, vamos para a fila, ficamos ali conversando e quando menos esperar estaremos com os papeis na mão.

Seguimos até o final daquela fila que era quilométrica, o sol era de rachar, estava muito quente, e a fila, bom essa ai não era nossa amiga, pois a mesma não andava nunca.

Foto: Fernando Torrezan

Após três longas horas e a maioria desse tempo foi debaixo de sol e uma temperatura que beirava os seus 40 graus, foi a nossa hora de passar pela imigração, e para o nosso azar, a mulher nos pediu o papel de saída da Aduana Brasileira.

Como assim, eu perguntei para ela, e curta em sua resposta, ela me disse, “Tienen que hacer la salida em Brasil”.

Um balde de água fria caiu em nossas cabeças, ou seria melhor dizer, um balde de água fervendo caiu em nossas cabeças.

Nesse momento o cansaço, o calor e a fome, já faziam com que desanimássemos cada vez mais.

Nesse momento nem pensávamos mais nos veículos naquele local correndo risco, fomos para a fila do lado Brasileiro, e a mesma fila que enfrentamos na Bolívia, estava no Brasil, para a nossa sorte, não seria aquela fila que iríamos enfrentar, conseguimos localizar a fila para Brasileiros, e lá fomos nós, achando que seria rápido, só achamos, porque a mesma demorou muito, pelo menos, agora estávamos aguardando toda essa demora debaixo da sombra. E foram duas longas horas até a nossa vez, não espere cordialidade dos Agentes que ali trabalham.

A fila era grande o calor imenso e o agente de imigração tocava uma campainha como um doido para que nós andássemos logo. Como meus filhos e minha esposa estavam sem passaporte, também resolvi viajar sem o meu, entreguei os nossos documentos de identidade para o agente, que já não tinha uma cara amigável, mesmo estando do outro lado do vidro, e com o ar condicionado bem gelado, o mesmo foi bem ríspido dizendo que eu tinha que estar com o meu passaporte, porque entregando o RG ele teria que digitar tudo e daria trabalho para ele.

Já que estávamos entrando em um País do MERCOSUL, acreditei não ser necessário o bendito documento. Situação resolvida, estávamos com os papeis de saída do Brasil na mão, voltamos para a imigração boliviana.

Foto: Reinaldo Junqueira

Eu esqueci, de mencionar, mas quando a mulher nos disse que tínhamos que fazer a saída do Brasil, ela disse que poderíamos voltar e não precisaríamos mais enfrentar toda aquela fila, era só falar com ela e a mesma nos passaria pela frente.

Ok, lá na porta da imigração, olhamos para lá e para cá, e cadê essa mulher? Muito provavelmente deveria ter acabado o seu turno e mesma foi embora, no seu local, já estava um policial não muito amigável, fomos até ele, acredito que o mesmo nos deixou passar por estarmos com nossos dois filhos. Ai você deve estar se perguntando, e os Mineiros na Rota?

Bem, eles estavam bem atrás de nós com o Teddy, um Shih tzu ainda não muito amigável com a gente, sempre rosnava e tentava nos morder, ali naquele momento, o policial, quis impedir a passagem deles, não seria justo eles voltarem para a fila, então a primeira coisa que veio a minha cabeça foi dizer, “Policial ele é meu Pai, deixe-o entrar comigo”, o policial refutou na primeira vez, mas acabou liberando eles. Nós rimos muito dessa situação, e acredito que o Edmar deve ter me xingado em seu pensamento, pois mal nos conhecíamos.

Até que enfim conseguimos fazer a imigração do lado Boliviano, hora de tirar cópia do resto dos documentos, e fazer a aduana do veiculo. Fomos até a Aduana e, para novamente a nossa surpresa a mesma estava fechada para almoço e só reabriria, ás 14h00min, horário da Bolívia, com uma hora para esperar e sem ter nada o que fazer, decidimos ir almoçar, seguimos andando a pé pela RN4 e adentrando a Avenida Luis Salazar de La Veja, achamos um restaurante, higiene não é o forte dos Bolivianos naquela região, o local era bem feio e sujo, e não existia banheiro para o cliente usar, mas era a única opção no momento, e como estávamos morrendo de fome, foi ali mesmo que decidimos comer, pedimos uma chuleta e uma jarra de uns cinco litros de suco de limão, para a nossa surpresa, a comida era muito deliciosa, hoje em dia não sei se realmente era gostosa ou se era tanta fome que tínhamos e nem sentimos o real sabor.

Criação de Trutas numa aldeia Aymara Foto: Rei Junqueira

Uns 20 minutos antes, dá Aduana reabrir, voltamos para esperar lá na frente, um dos guardas veio, olhou nossos documentos e verificou, que ainda faltavam algumas copias, fomos  novamente a lojinha tirar copia do restante de documentos que faltava, e voltamos para o portão de entrada da Aduana, novamente o guarda olhou os documentos viu que tudo estava correto, e pediu para que todos colocassem os mesmos em uma sequencia para facilitar o trabalho dos agentes da Aduana.

Às 14h00min horas da Bolívia, os portões se abriram e o guarda foi acompanhando todo mundo e orientando como seria o procedimento, ao subirmos as escadas, de nada adiantou a orientação daquele policial, a fila, bem a fila já nem existia mais, ali a lei que predomina é a do mais esperto e do mais forte, após alguns empurrões conseguimos entregar nossos papeis para o agente da aduana, não podíamos entrar no salão de atendimento, e lá tinha ar condicionado e dava para sentir a brisa daquele ar gelado que saia pela porta tivemos que esperar na sacada do prédio, o sol batia em cheio nos nossos rostos, e não tínhamos como se esconder do sol, era impossível achar uma sombra ali.

Após umas duas horas de espera, o agente apareceu e fomos até o local, onde os veículos estavam, para que ele pudesse verificar a veracidade dos dados apresentados em documentos, o agente apenas olhou o numero do chassi, não questionou nada mais, e nem olhou a caçamba do veiculo para ver o que tinha dentro.

Esperamos ele fiscalizar os outros carros que estavam no mesmo lote de documentos que o nosso, acho que era uns 05 ou 06 carros que cada agente pegava para fiscalizar de uma vez.

Voltamos para a sacada do prédio e ali pudemos tomar mais uma hora de sol, até que gritaram meu nome para que ai sim, eu pudesse adentrar dentro do salão de atendimento e assinar a papelada, pronto, estávamos aptos a adentrar a Bolívia de forma legal, com tudo legalizado e sem medo algum de perder nossos veículos para a Polícia corrupta.

Quechuas. Foto: Reinaldo Junqueira

Mentira, não estávamos aptos ainda, um Brasileiro que estava lá fazendo a saída da Bolívia para o Brasil, nos disse o seguinte. Vocês têm que ir até a cidade de Puerto Suárez na delegacia e fazer a “Orden de Traslado” que é emitida por um policial ao preço de 100 Bolivianos, fomos até lá e encontramos várias pessoas que assim como nós, já tinham perdido o dia todo para fazer a fronteira. Esperamos mais ou menos uma hora até conseguir ser atendido por aquele policial, e pegarmos aquela folha de papel A4 preenchida no Word de qualquer jeito e com um carimbo e sua assinatura, mais tarde ao sairmos da Bolívia por Ollague Chile, o pessoal da Aduana Boliviana, nos disse que esse papel era uma enganação, ai percebi que tinha perdido 100 Bolivianos.

Gastamos um pouco mais de nove horas para conseguir fazer todo o tramite de entrada na Bolívia, eu não tinha experiência com fronteira, à única fronteira que eu já tinha feito de carro foi a de Foz do Iguaçu para a Argentina, mas foi tudo muito fácil e rápido, nem precisamos descer do carro. Acredito que essa fronteira nos trouxe muitas experiências, espero que esse relato ajude os outros a ter mais facilidade com essa fronteira, percebemos que lá existe muita desinformação e na internet não existe, pelo menos até na época em que fui viajar, final de 2018, não existia um relato sobre a fronteira de Corumbá.

Vi em vários sites, grupos de whatsapp e inclusive no site da Embaixada Brasileira na Bolívia, que era loucura viajar com o veiculo para aquele País, que correria o risco de perder o veiculo para o Governo, já que realmente existe uma lei aonde se você entra sem declarar o veiculo, você perde o mesmo, e num prazo de  três dias o carro já vai para leilão e não tem o que se fazer, mas com essas dicas aqui, muita calma e paciência, não se preocupe, entre com seu veiculo e desbrave esse País lindo e maravilhoso.

Se organizarmos, tudo fica muito simples e pratico. O ideal é:

1 – Faça a saída do Brasil.

2 – Faça a imigração na Bolívia.

3 – Tire Copias

4 – Faça os tramites na Aduana.

5 – Em hipótese alguma faça “Orden de Traslado”

Foto: Reinaldo Junqueira

Leve todos os documentos e com as copias já tiradas, assim você economiza tempo e dinheiro, faça o SIVETUR 249 online, o link é esse:

https://www.aduana.gob.bo/aduana7/content/formulario-249-sivetur

Documentos: – RG (copia frente e verso) – PASSAPORTE (COPIA DO CARIMBO DE ENTRADA E DAS INFORMAÇÕES DO PASAPORTE)

– CNH (COPIA) – COPIA DO PAPEL DE SAIDA DO BRASIL – COPIA DO PAPEL DE ENTRADA NA BOLÍVIA (QUANDO USAR RG) – DOCUMENTO DO VEICULO (COPIA) – SIVETUR (COPIA)  – FINANCIAMENTO – No meu caso o meu carro possui financiamento, me colocaram muito medo, dizendo que eu precisaria de uma carta de autorização do banco para adentrar os Países estrangeiros, não se preocupem com isso, o carro estando financiando no seu nome, não tem problema algum e não precisa de nenhuma carta de autorização ou algo parecido, salvo se o veiculo estiver financiado ou não no nome de outra pessoa que não seja o condutor, ou possuir o sistema de Leasing, aonde o veiculo normalmente esta em nome do banco.    – CARTA VERDE – essa não se fez necessário, mas quando apareceu o convite da expedição me surgiu várias duvidas, as mesmas que você tem e por isso esta lendo esse artigo. Entrei em contato com o meu corretor de seguro para perguntar se ele fazia a Carta Verde, e a resposta foi que sim e que inclusive constava a Bolívia nela, indaguei sobre o custo dela, e tive uma resposta muito agradável, o custo era zero, pois quem é cliente Bradesco seguro(não estou ganhando nada por mencionar essa empresa), tem direito a ter a Carta verde de graça a cada seis meses, se não me engano.

Bom esse foi o relato da Família Torrezan, e que possui um instagram: @oquintaldehoje para você acompanhar as viagens que nós fazemos e em breve um canal no Youtube para que assim, possamos gravar vídeos sobre esses assuntos e compartilhar um pouco de nossas aventuras e viagens também.

Foto: Fernando Torrezan

Gostaria de agradecer o Ricardo Pocholo por essa oprtunidade de poder expor esse relato, ao Edmar e a Shirlene e Teddy, do Mineiros na Rota, sem eles talvez tivéssemos desistido ali mesmo na fronteira, ao Alex a Mica e o Taco do Overland Way, pessoas mais do que especiais passaram uma energia tão boa para todos lá, esse casal merece toda sorte do mundo, ao Gustavo Amaral, Esposa e Filhas, ao Alessandro, Esposa e filhinha linda do Canal Mais 1 na Trip, ao Mauro, Esposa e Amigos, e em especial ao Elcio do canal Hilux Expedition, pois foi ele quem me encorajou a entrar nessa aventura, e se tiverem interesse em saber sobre como tudo isso aconteceu, deixem nos comentários ai, que farei um relato de como começou e como foi o preparo de toda essa expedição.

Conheça o Instagram do projeto O Quintal de Hoje do Fernando Torrezan, autor do relato.

3 COMENTÁRIOS

  1. Boa noite. Em 2014 fomos para a Bolívia. Entramos por Ollague. Foi muito tranquilo. Fiquei admirado com este relato. Realmente fizemos tudo em alguns minutos e entramos na Bolívia. Sentido Uyuni.

    • Tudo bem, Wagner? Realmente as outras fronteiras são bem mais tranquilas. Esse de Corumbá já é bem famosa por complicar a vida de viajantes. Se puder evitá-la, é melhor. Abração!

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