A história da Rodovia Pan-Americana.

Já parou para pensar como era difícil viajar sem as estradas? Esse foi o desafio encarado por três Brasileiros em 1928. Eles sonharam em ligar as três Américas por uma gigantesca estrada, foram os responsáveis por traçar a rota da Rodovia Pan-Americana.

EXPEDIÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DA RODOVIA PAN-AMERICANA (1928 -1938)
Foto: Rei Junqueira museu Mario Fava, Bariri/SP

Foram 27.631 quilômetros em 10 anos de viagem do Rio de Janeiro a Nova York rodando por estradas, picadas, matas, rios e riachos de 15 países nas três Américas, incluindo partes da Cordilheira dos Andes e da Floresta Amazônica, com o objetivo de traçar a estrada Pan-Americana.

Fonte: Museu Mario Fava

Na Conferência da União Pan-Americana, realizada em Buenos Aires em 1925 manifestou-se o interesse  em realizar esse traçado que interligasse as três Américas. E a repercussão desse fato foi o que motivou o projeto da Expedição Brasileira.

Os Expedicionários apresentaram o projeto ao então presidente Washington Luiz que achou um projeto possível e elaborou para eles um documento os apresentando-os em todos os países (governos) que passassem pedindo auxilio naquilo que fosse necessário para o momento em que estavam atravessando.

A Expedição teve início em abril de 1928, com o Tenente do Exército Leônidas Borges de Oliveira, o Engenheiro Francisco Lopes da Cruz e um automóvel “FORD T 1918” de fabricação Americana, entregue pelo jornal “O Globo” e que recebeu o nome de “Brasil” , hoje recuperado e preservado no museu na cidade de Bariri/SP. Na capital paulista os expedicionários ganharam do “Jornal do Comércio” mais um veiculo FORD uma caminhonete “Modelo T” batizado de São Paulo.

O Ford T BRASIL usado na Expedição no museu Mario Fava foto: Rei Junqueira

Foi quando a expedição passou pelo interior de São Paulo que Mário Fava, mecânico, se juntou a Leônidas e Francisco.

As dificuldades foram muitas durante os 10 anos de viagem e elas já se mostraram ainda no Brasil, no Mato Grosso, quando uma onça atacou o carro em que estava Mario Fava ferindo-o seriamente. Na Colômbia ficaram 4 meses perdidos na selva, debilitados e doentes mas foram salvos por índios locais que os retiraram de lá. Os Brasileiros recebiam todo o apoio dos Governos dos países em que passavam. A principal ajuda veio do governo mexicano, o FORD “Brasil” havia sido muito danificado após cair de uma ribanceira e precisava de uma reforma geral, nem foi preciso pedir ao presidente na época que determinou que fossem feitos todos os reparos necessários e ainda doou uma capota.

Ainda no Brasil os expedicionários foram atacados por uma onça no Mato Grosso. Acervo Beto Braga

O que manteve os carros na estrada foi o improviso de Mário fava. A falta de combustível , por exemplo, foi resolvida na Bolívia misturando uma bebida alcoólica indígena a “Chicha” ao querosene fazendo uma mistura que os levassem a atravessar os Andes.

Também na Colômbia, os pneus estourados foram enchidos com capim — e assim rodaram até a Guatemala, onde o governo daquele país patrocinou uma reparação total nos veículos, doou pneus novos e também concedeu alta soma de dinheiro aos expedicionários.

Houve uma outra passagem em que foi preciso desmontar os dois veículos e coloca-los em balsa, atravessar o rio e remonta-lo em seguida, tudo isso feito por Mário fava, o mecânico. Foram 209 travessias de rio e muitos quilos de dinamite para abrir os caminhos da Pan-americana. Por onde passavam o exército recrutava homens que trabalhavam para servir aos três brasileiros.

Atravessando um rio no México. Toda a travessia era feita com o carro inteiro desmontado e colocado na caçamba do Ford São Paulo os eixos eram atravessados a parte em balsas improvisadas.
Acervo fotográfico Beto Braga. Internet

E como eles atravessaram a fronteira da Colômbia com Panamá o “intransponível” Darien Gap?

Traçado por onde a Expedição atravessou o Darien Gap em 1932

No livro de Beto Braga “O Brasil através das Três Américas” sobre a expedição ele relata o seguinte: A dureza da travessia até a fronteira com o Panamá ficou anotada no diário da Expedição:

” Construir a estrada pela Selva de Urabá e Chocó é impossível, para lograr chegar á fronteira do Panamá, cruzamos os rios puxados por bois e pequenos batalhões de homens. A região Del Atrato é tão pantanosa que o terreno, no seio da selva milenar, o chão pode tragar um automóvel inteiro. Mesmo com os avanços futuros da engenharia, a construção de pontes não será possível, pois se não bastasse o rio ser caudaloso, suas margens tem mais de duas léguas de profundos pântanos.

A única maneira que encontramos para atravessar tamanha escabrosidade foi desmontar os dois automóveis e transportá-los em lombo de animais e de carregadores que nos auxiliam nesta jornada.”

Em 1937 após atravessarem toda a América Central, chegaram em Detroit nos Estados Unidos, recepcionados por Henry Ford, que chegou a desconfiar da originalidade dos automóveis, uma vez que eles não tinham a capota rígida, entretanto na conferência dos números no motor se constatou a originalidade deles. Ford então quis ficar com os carros e fez uma oferta aos brasileiros que foi recusada pelo comandante Leônidas. Eles disserem que os carros pertenciam ao povo brasileiro.

Em Detroit com Henry Ford ao centro. Acervo Beto Braga

Em Washington os expedicionários foram recebidos na Casa Branca como heróis pelo presidente Franklin Roosevelt.

Os expedicionários na Casa Branca com Franklin Roosevelt. Acervo Beto Braga.

Dois anos depois com a missão cumprida os brasileiros desembarcavam no Rio de janeiro, o retorno foi mais fácil de navio e com os dois carros.

Um dos carros o BRASIL foi inteiro restaurado e hoje está no museu Mario Fava na cidade de Bariri./SP. O outro o SÃO PAULO não teve a mesma sorte e se deteriorou num terreno baldio do museu do Ipiranga.

O FORD T BRASIL no museu Mario Fava Foto: Rei Junqueira

*Resumo da Carretera Panamericana

Brasil: Ao som da Banda Marcial e do burburinho da multidão em frente à sede do jornal O Globo, no Rio de Janeiro, o tenente Oliveira, o engenheiro Lopes da Cruz e o mecânico Mario Fava partem em um Ford T no dia 16/04/1928 para descobrir, percorrer e projetar uma estrada que ligaria as Américas. A Expedição Brasileira de Estudos da Carretera Panamericana é recebida em Petrópolis pelo presidente Washington Luís. Em São Paulo, ganham uma caminhonete modelo T. No dia 02/02/1929, eles chegam ao último ponto do Brasil na rota, em Ponta-Porã, PR.

Paraguai: Floresta no nordeste: Uma tempestade arranca do chão o rancho onde dormiam. Depois de 2 meses viajando dentro da mata, chegam a Villa Rica, cansados, barbudos, com infecção intestinal e febre.

Argentina : As rodovias eram boas e o país vivia uma expansão econômica, o que tornava a ligação entre Buenos Aires e a Carretera conveniente. São recebidos por ministros e têm 3 meses de tranquilidade.

Bolívia: Deslumbram-se com a Cordilheira dos Andes e com os animais da região. Veem de perto lhamas, vicunhas, alpacas e o gigante condor. Com a ajuda de cães que acompanham a excursão, caçam coelhos para comer.

Peru: Tablachaca: Mário Fava escapa por pouco de um acidente grave. Chegam doentes a Andahuailas. Após uma longa convalescença, seguem rumo à cordilheira. Levam 4 meses para atravessá-la.

Equador: Azuay: No dia 19/10/1930, desgovernado, o Ford Brasil rola 100m ribanceira abaixo. Mário Fava fica preso nas ferragens. O cachorro Tudor, que acompanhava o grupo, morre no acidente.

Colômbia: Picadas de insetos formam grandes feridas. Em Cali, o solo dos Andes destrói os pneus, que são enchidos com capim. Na selva de Urabá, os carros cruzam os rios desmontados.

Panamá: Colón: A expedição visita o canal do Panamá. Cidade do Panamá: O presidente, Ricardo Javané, fica impressionado com o fato de o grupo ter conseguido atravessar de carro a selva de Urabá, um feito inédito.

Nicarágua: Manágua: O líder guerrilheiro Augusto Sandino recebe a expedição na capital. Ele havia fechado um acordo de paz com o governo, mas foi vítima de uma armação em 21/02/1934 e morreu metralhado. Os brasileiros haviam jantado com ele na noite anterior.

Honduras: Em apenas 8 dias, percorrem o trecho hondurenho, 187 km, que faria parte da futura Carretera Panamericana.

Guatemala: Cidade da Guatemala: Os carros são consertados e ganham pneus novos. O presidente, Jorge Ubico, lhes dá uma grande quantia em dinheiro.

México: Huixtla: São obrigados a atravessar rios sem pontes. Em San Jerônimo, lOliveira quase morre por causa de uma infecção intestinal. Na cordilheira do Oaxaca, o trajeto é aberto à custa de força física.

Estados Unidos: Austin: Apresentam o projeto ao prefeito e ao governador. Detroit: Henry Ford faz questão de conhecer os aventureiros e oferece um bom dinheiro para ter os carros Brasil e São Paulo no museu de sua fábrica. OliveiraMário Fava e Cruz recusam e seguem viagem. Washington, DC: Franklin Roosevelt reconhece a expedição em carta.

*Fonte: Museu Mario fava

 

Na América do Sul os incríveis números registados no Diário de Leônidas Borges de Oliveira:

  • 4 anos de viagem para chegar até até a Colômbia;
  • Foram 16.000 quilômetros de travessia abrindo picadas na selva, preparando caminhos com dinamite e picaretas.
  • 209 rios atravessados;
  • 13 pontes construídas;
  • 04 balsas construídas.

Essa aventura se perdeu no tempo, quase ninguém no Brasil conhece essa historia incrível dos projetistas da Rodovia Pan-americana .

A Rodovia atualmente liga o Ushuaia ao Alaska, tem 43.000 km e o cumprimento dela é praticamente o diâmetro da terra.

O Brasil infelizmente não fez a sua parte da estrada PanAmericana por um bom tempo devido a motivos políticos, permanecendo de costas ao pacífico até 2005 quando iniciou a construção da Carretera Interoceânica, ligando o Brasil ao Peru que foi inaugurada em 2011.

Nosso reconhecimento as esses três brasileiros por este feito histórico, os verdadeiros Overlanders raiz!

Os Aventureiros: Mario Fava, mecânico (à esq), Leônidas Borges de Oliveira, militar; Francisco Lopes da Cruz, engenheiro

Para saber mais:

Todo esse feito heróico pode ser lido com muitos detalhes no livro “O Brasil das Três Américas” do escritor Beto Braga , divulgador dessa grande viagem.

O livro do escritor Beto Braga que pode ser adquirido no museu ou nas livrarias virtuais. Esse é nosso!

Visite o Museu Mario Fava:

Endereço:
Museu Mario Fava
Rua Tiradentes, 410 – Bariri – SP
Telefone:
(14) 3662-1317

E-mail:
[email protected]

Horário de atendimento:

De terça a domingo: (Segunda FECHADO)

das 09:00h às 17:00h.

VIDEO ANIMAÇÃO DA EXPEDIÇÃO

 

 

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