O ano era 1989 e o Muro de Berlim havia acabado de cair quando Gunther Holtorf e sua esposa saíram para viajar de carro pela África em um Mercedes Benz G-Wagen 300GD, o qual batizaram com o nome Otto. A viagem deveria durar 18 meses, mas acabou durando 26 anos e passou por mais de 200 países.

Gunther Holtorf nasceu em 4 de julho de 1937 em Göttingen. Cresceu durante a Segunda Guerra Mundial e, em 1958, começou a trabalhar na Lufthansa, o que o permitiu viajar bastante e morar em diversos países, inclusive, nos nossos vizinhos Argentina, Uruguai e Chile. Mudou de emprego, em 1985, e foi trabalhar na Hapag-Lloyd, deixando a empresa em 1988 quando já vivia com sua terceira esposa e havia tomado gosto por viagens por causa do seu trabalho.

No mesmo ano em que deixou o emprego, Gunther comprou o Mercedes-Benz G-Wagen 300GD azul que estava como mostruário na concessionária da marca em Oldenburg, na Alemanha. Foi aí que teve início a viagem planejada para durar 18 meses desbravando o continente Africano.

Nem tudo aconteceu de acordo com o planejamento. A passagem pela África durou 5 anos e, nesse período, Holtorf se divorciou da sua terceira esposa, mas isso não foi suficiente para interromper a viagem. Foi então que, por meio de um anúncio no jornal “Die Zeit”, Holtorf encontrou a mulher da sua vida, Christine.

Juntos percorreram países como a Argentina, Perú, Brasil, Panamá, Venezuela, México, Cuba, Estados Unidos, Canadá e Alasca, entre outros. Depois disso rumaram para a Austrália, onde passaram mais uma temporada, mas foi no Cazaquistão que atingiram a impressionante marca de 500.000km viajados! (Foto 500kkm) Gunther e sua esposa passaram 20 anos rodando juntos pelo mundo anonimamente, vivendo o que pode ser considerado a expressão máxima da liberdade, além de ser uma inspiradora história de amor e cumplicidade. Infelizmente, Christine faleceu em 2010 vítima de câncer, mas ela pediu ao marido que continuasse sua viagem. Gunther atendeu a última vontade da sua esposa, que ainda o acompanhou em uma foto no retrovisor do carro. A viagem continuou por países como China, Coréia do Norte, Vietnã e Cambodja. A façanha ficou conhecida como “A viagem sem fim de Gunther Holtorf“ e a razão é óbvia: “The more we traveled, the more we realized how little we’d seen” (quanto mais viajávamos, mais percebíamos que tínhamos visto muito pouco ainda).

Sem qualquer tipo de ajuda ou financiamento, ou mesmo sem recursos como Twitter, Facebook, Instagram ou blog, Gunther afirma que conseguiu economizar algum dinheiro enquanto trabalhava, mas que a viagem somente foi possível por eles terem vivido de modo simples, gastando muito pouco. Eles não dormiam em hotéis, davam preferências para dormir no carro ou em redes quando o clima permitia, tampouco comiam em restaurantes. Compravam comida em mercados locais e cozinhavam. Isso fez com que eles conseguissem ter uma vida mais barata que a vida que tinham na Alemanha e permitiu passarem mais tempo viajando.

Segundo Gunther, o G-Wagen não teve nenhum problema grave e sempre que algo ocorria, ele estava tão familiarizado com o veículo, que conseguia solucionar o problema sem maiores dificuldades. O carro completou o equivalente a 20 voltas ao mundo, tendo marcado mais de 800 mil Quilômetros no odômetro, ainda com motor original.

Depois de viajar por 26 anos e percorrer 215 países, a viagem terminou na Alemanha, onde começou. A Mercedes –que ao tomar conhecimento da incrível jornada decidiu apoiar Gunther Holtorf– vai expor o “Otto” no seu museu em Stuttgart, onde este verdadeiro “globetrotter” poderá ser admirado por milhares de apaixonados pela marca.

Além do carro, no museu estarão expostas as incríveis fotos feitas por Gunther com as 2 inseparáveis câmeras Leica, totalmente analógicas.

Diferente do que anunciou, Gunther caiu na estrada, mais uma vez, e foi visto no Uruguai em janeiro de 2019 por um grande amigo meu. Ele ainda viaja em um Mercedes G-Wagen, na mesma cor do Otto, porém, com algumas modificações estruturais. É ou não é invejável o desejo de viajar que move a vida desse overlander?

O vídeo abaixo é obra do canadense David Lemke, que acompanhou Holtorf pelo sudeste asiático e mostra parte das fotos registradas durante a viagem.

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